Depois de um dia de trabalho extremamente exaustivo, fui à igreja. Era missa da quinta feira antes da Páscoa. Fui encontrar minha namorada.
Entrei, flexionei meu joelho e me benzi. Notei que algumas pessoas me olhavam de modo diferente do normal. Não sabia, até aquele momento, o que aquelas expressões queriam me dizer. Olhavam como se olha alguém com a braguilha aberta ou a camisa pelo avesso.
Olhei para minha braguilha. Olhei para minha camisa; não estava pelo avesso, mas bem que eles queriam que estivesse.
Um ponto de exclamação em forma de camisinha tomava meu peito; lia-se em letras garrafais um Vista-se, logo abaixo. Era isso!
Trabalho no Programa de DST/ AIDS da Secretaria de Saúde do município onde moro. Essa roupa funciona como um uniforme não obrigatório. Gosto dela. Sinto-me bem vestindo ela. Nem reparei o que estava usando, para falar a verdade.
Já que estava lá, continuei. Sentei ao lado de minha namorada, participei da missa, tudo como manda o figurino. Entrei na fila da comunhão, comunguei, fui novamente para o assento.
Um homem destranbelhadamente destacou-se da fila onde segundos antes eu estava. Como um polvo epiléptico, sacudindo o dedo, ora em minha direção ora em outra qualquer, visivelmente furioso, olhos esbugalhados, pupilas dilatadas, gritando em falsete:
- Você deveria ter vergonha de comungar com esta camisa!
Cheio de meu cinismo habitual, olhei para ele com um ar de Mona Lisa e segui meu caminho.
Pensei depois seriamente no que ele argumentou (tsc). Refleti sobre o ocorrido. Ri.
Que babaca!
Fiquei imaginando se eu fosse outra pessoa. A crise de fé que o boçal poderia ter provocado com aquela agressão (agressão sim!). Ou então, se eu resolvesse bater boca - como ele estava doido para fazer - para defender minhas convicções, provavelmente acabaria com a celebração de pelo menos uma dúzia de pessoas que estivesse à nossa volta.
Então, meus amigos, usem sim camisinha. Usem mesmo! Protejam a saúde de vocês e dos seus companheiros. Sejam responsáveis com a sexualidade. O HIV está se espalhando e dificultando o viver de muita gente. Levando ainda muitas vidas, apesar dos avanços nos tratamentos. Isso, fora as demais doenças que podem ser transmitidas sexualmente.
Usem camisinha, não oprimam sua afetividade e sexualidade (isso seria um desserviço à conscientização) e sejam felizes!